terça-feira, 20 de maio de 2008

Homenageado da semana: JÚLIO BRAGA (Histórico)

Júlio Braga nasceu na cidade de viçosa (AL) em fins do século XIX. Ainda menino, foi obrigado a trabalhar para ajudar o pai e a mãe, cujo marido havia abandonado a família desaparecendo para sempre. Júlio saia de Bebedouro e ia para o centro a pé, trabalhar como aprendiz de mecânico na oficina de Benedito Vanderley (a oficina ainda existe no bairro de Jaraguá, com mais de 70 anos de existência e sob a direção de um de seus filhos).

Já rapaz, deslocou-se para Salvador (Ba), e passou a trabalhar como motorista da residência de um ricaço salvadorenho. Era semi analfabeto, até então. Certa feita em uma reunião de motoristas numa das praças centrais de Salvador, a turma teve nescessidade de efetuar um cálculo que envolvia uma conta de multiplicação, e ninguém conseguiu efetuá-la. Júlio ficou tão envergonhado, que adquiriu uma aritimétrica de Antônio Arajano, na época melhor volume destinado ao curso básico (o outro no primário), aprendendo de forma autodidática os primeiros conhecimentos, aprofundando após para conhecimentos superiores: algébricos, cálculos de resistência de materiais e desenho industrial. Estabeleceu uma vitória própria sobre ângulos e demais aspectos de desenho linear.
Na Bahia, precisamente em Salvador, entrou para o Partido Comunista Brasileiro. Ao retornar a Maceió, participou da fundação do partido no estado, então com Benedito Gororoba e demais companheiros fundadores do Partido.

Em 1935, às vésperas do movimento armado dirigido pelos comunistas, deslocou-se, por tarefa, a pé para Salvador a fim de entregar uma mensagem secreta à direção partidária naquela capital, que não podia ser expedida por correio, telefone nem por telegrama, cifrada.

Em 1937 dirigiu, com os demais camaradas da direção partidária, a Greve Geral dos trabalhadores maceioenses, cuja concentração ocorreu na praça da Recebedoria. A polícia interviu violentamente, atirando na multidão quando uma bala perdida raspou a cabeça de Júlio e penetrou na estátua (a última da direita, frente a Igreja) cuja perfuração permaneceu por um longo período às vistas dos quantos que ali passavam.

Preso e processado, juntamente com outros dirigentes comunistas alagoanos, ficou mais de um ano na antiga cadeia de Maceió. As famílias dos presos, residiam coletivamente numa casa cujo aluguel era pago pelo Socorro Vermelho, sendo que a alimentação era recebida pela metade da boia dos presos, diariamente que cediam aos familiares dos presos políticos libertados após cumprimento integral da pena, embrenha-se na vida clandestina, disfarçado em vendedor de raízes pelo interior de Alagoas, barba crescida, tal como um autêntico andarilho.

Nesse período, foi montar uma fábrica de gelo em Pão de Açucar, onde ali se encontrava homisiado com a esposa, D. Alice Braga, com os filhos Lauter e Leda, já que eu e minha irmã mais velha, Lucy, estavamos em Maceió em casa de amigos.

Certo dia, como o filho Lauter era muitíssimo parecido com o pai, um dos agentes secreto suspeitou ele ser filho de "seu Manuel", denunciando-os as autoridades policiais. Lá vai o Júlio preso, recâmbiado para Maceió, até sua libertação.

Durante a segunda guerra, empregou-se como mecânico na base americana localizada no Tabuleiro dos Martins. Certo dia, um motorista americano bêbado, atropelou um pelotão do antigo 20° BC que fazia ordem unida na principal rua perto do Quartel, matando um Soldado e ferindo outros. O comandante do 20° BC exigiu a prisão do motorista americano. O comandante da base recusou-se a entregá-lo às autoridades brasileiras, surgiu daí uma crise: o comandante do 20° BC exigiu ameaçou marchar sobre a base. O comandante ameaçou bombardear o Quartel.

O Júlio, que formara uma base de militantes na base, reuniu na minha residência da rua do Queimado, discutindo a crise, e decidiram incêndiar o paiol de combustível, fazendo as instalações explodirem no caso da consumação das ameaças mútuas.

Foi necessária intervenção do comandante da 7a. negrão miliar, sediada no Recife, para dirigir as controvérsias.

Essa decisão dos comunistas da base, foi secreta, absolutamente secreta da qual as autoridades da base 20° jamais tomaram conhecimento...
Em 1948, por ocasião da famigerada decisão judicial que fecharia o registro legal do PCB, pegou Júlio Braga na direção partidária.

Júlio Braga faleceu com 82 anos, vítima de um aneurisma. Recusou-se a morrer deitado, tendo espirado com os braços comprimindo o tórax em função da dor que lhe perpasou o coração inundado de sangue que eclodiu nos últimos seus momentos de vida.





Texto fornecido por Laudo Braga, Filho de Júlio Braga e membro do Partido Comunista Brasileiro desde os 5 anos de idade.

2 comentários:

Anônimo disse...

o informações sobre o meu pai Otávio Lins de Aragão e Ivan Cunha. Você os conheceu?

http://www.facebook.com/sergio.braga.9 disse...

Esse trabalho de recuperação da memória dos comunistas anônimos, de suas vitórias e vicissitudes, é de fundamental importância. Sugiro que postem mais verbetes sobre a gloriosa é pouco conhecida história dos comunistas alagoanos. Abrs,